Dia Mundial da Prevenção do Suicídio - Texto aprovado pela Mesa do Colégio de Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio comemora-se anualmente a 10 de Setembro.

Iniciada em 2003, por iniciativa da Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP) e apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), esta comemoração visa melhorar o esclarecimento acerca do suicídio através da disseminação de informação e diminuição do estigma. Além disso, esta efeméride procura, sobretudo, difundir a ideia de que o suicídio é, na maioria das vezes, prevenível. O tema escolhido para 2010 foi «Muitas faces, Muitos lugares: Prevenção do Suicídio em todo o Mundo».
O suicídio representa anualmente cerca de um milhão de mortes, ou seja, 16 pessoas por cada 100.000 … uma pessoa suicida-se a cada 40 segundos!

Actualmente o número de suicídios representa mais que o somatório das mortes em guerras e homicídios. Tem um enorme impacto a nível familiar e social, estimando-se que cerca de 100 pessoas sejam afectadas directa ou indirectamente por cada suicídio.  
Em Portugal ocorrem aproximadamente 1000 suicídios por ano. Registou-se um  aumento no início deste século, com taxas de cerca de 11 por 100 mil, mas nos últimos anos o valor desceu para cerca de 8/100 mil. Este fenómeno ocorre maioritariamente a sul do Tejo (Grande Lisboa, Alentejo e Algarve) e o suicida em Portugal é, principalmente, homem, com idade superior a 55 anos, com história de isolamento e, na maior parte das situações, com doença diagnosticada (principalmente depressão). Por cada suicídio estima-se que ocorram entre 20 a 30 comportamentos suicidários protagonizados por jovens do género feminino, de forma impulsiva e, na maior parte dos casos, sem doença psiquiátrica diagnosticada.

Esta é uma área de intervenção do Serviço Nacional de Saúde a merecer mais atenção. Foi um dos indicadores que não se atingiu no Plano Nacional de Saúde 2004-2010, tendo-se agravado a morte por suicídio antes dos 65 anos de idade que, entre 2001 e 2008 passou de 4,9 para 5,7/100 mil habitantes, ao contrário da meta estabelecida de 2,5/100 mil.

Também aqui os enfermeiros podem ter um papel crucial na prevenção primária, secundária e terciária. Na prevenção primária, colaborando na elaboração, liderança, execução e avaliação de programas de prevenção na comunidade. Ao nível secundário, na intervenção em crise nos serviços de urgência e em regime de internamento junto do indivíduo e família. Ao nível terciário, através da intervenção junto dos familiares e comunidade próxima do suicida.

Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Suicidologia (fundada em 2000, www.spsuicidologia.pt) tem assumido um papel de dinamização de alguma discussão / formação multidisciplinar em torno deste tema.

Programas de prevenção a nível geral que incluam a limitação do acesso a métodos de suicídio, nomeadamente armas de fogo, pesticidas e alguns medicamentos, reduzem as taxas de suicídio. Uma informação cuidada acerca de casos públicos de suicídio previne futuros impactos do suicídio. Melhor educação das populações, serviços de saúde e profissionais permite uma melhor e mais precoce identificação dos casos de risco e contribui para uma procura eficaz dos serviços de saúde, levando a uma redução de suicídios no seio de pessoas com doença mental. Providenciar suporte aos familiares em luto por suicídio também reduz o risco de suicídio.

O suicídio é um fenómeno complexo e multifacetado, obrigando a uma conciliação de saberes, políticas e recursos que vão para além da saúde. Contudo, a saúde tem principais responsabilidades. Apesar disso, continuamos sem um Plano de Prevenção do Suicídio, sendo a prevenção deste tipo de comportamentos uma das prioridades do Plano Nacional de Saúde Mental!

Autor: Enf.º José Carlos P. Santos
Texto aprovado pela Enf.ª Glória Durão Butt, Presidente da Mesa do Colégio de Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.