Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho: a importância da enfermagem

Têm sido dados passos importantes na melhoria das condições e segurança no trabalho, apostando em garantir a saúde dos trabalhadores. No entanto, ainda há muito a fazer numa área em constante evolução, nem sempre valorizada e na qual os Enfermeiros desempenham um papel importante.

Neste Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, as Enfermeiras Vera Geraldes e Sofia Lourenço explicam como é possível prestar um bom serviço centrado nas necessidades dos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa.

Nos cerca de 20 anos que se dedicam a esta função, muito mudou. "Em relação à enfermagem, acho que as pessoas começam a mudar a visão. Temos conseguido dar visibilidade ao nosso trabalho, demonstrar que é importante e que traz ganhos para a saúde das pessoas. É cada vez mais valorizado", salienta a Enfermeira Vera Geraldes.

Recorda que a enfermagem era "pouco visível, muita fechada no gabinete, não havia grande contacto com os restantes membros da equipa". Mas garante: "Isso mudou, agora há uma articulação enorme."

Promoção da saúde, prevenção da doença e dos riscos profissionais são três fatores que se destacam na relevância dos enfermeiros nesta área. "Os trabalhadores têm contacto com o enfermeiro [na consulta de enfermagem] e têm facilidade de falarem sobre os seus problemas. Dessa forma, nós conseguimos um encaminhamento e um aconselhamento quer em termos de saúde, quer em termos psicológicos, quer na área da segurança no trabalho, conseguimos fazer muito essa articulação", refere Vera Geraldes.

Sofia Lourenço reforça: "Eu sinto-me aqui como um elo de ligação entre o trabalhador, as restantes áreas da equipa multidisciplinar e os locais de trabalho."

A Enfermeira – ao todo são 11 neste serviço na Câmara – reitera que prestar um bom serviço de acompanhamento dos trabalhadores só é possível devido à articulação que hoje existe entre todos os membros da equipa multidisciplinar: "Temos uma equipa muito motivada em fazer bem e melhor, empenhar-se todos os dias para o bem-estar dos trabalhadores."

Esta dedicação ganha ainda mais relevância quando se olha para uma lei que as enfermeiras consideram ser redutora, na qual a enfermagem coadjuva o médico. "A enfermagem do trabalho tem as suas competências, assim como o médico tem as suas. São áreas complementares", afirma Vera Geraldes.

"Quero acreditar que a enfermagem no trabalho deu um salto com a certificação das competências acrescidas. Veio dar visibilidade ao enfermeiro do trabalho e fazer perceber às empresas que têm de ter enfermagem no trabalho. Penso que demos este salto, mas falta muito pelo país todo", acrescenta Sofia Lourenço.

 

Projetos para evoluir nos cuidados prestados

Com os trabalhadores a compreenderem cada vez mais como este acompanhamento pode fazer diferença, ainda mais numa altura em que os acessos aos cuidados de saúde atravessam uma fase muito conturbada, ter uma entidade patronal disponível para contribuir para um melhor serviço tem sido essencial.

Sofia Lourenço e Vera Geraldes recordam que entre 2018 e 2021 foi realizado um estudo que permitiu definir o perfil de saúde dos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa. "Algo que nunca tinha sido efeito", diz a última.

"Houve necessidade de conhecer melhor a nossa população e adequar as intervenções", refere Sofia Lourenço. A partir do estudo começaram a ser elaborados projetos focados no que ficou patente ser mais fulcral.

Um foi na área da prevenção da síndrome de apneia obstrutiva do sono, que abrange os motoristas, mas será alargado. Também surgiu um programa de cessação tabágica e mais projetos vão continuar a ganhar forma.

São projetos que reforçam os vários serviços, como é o caso da saúde mental, da responsabilidade da área da psicologia, que tem o objetivo de despistar riscos psicossociais.

O gosto pela saúde ocupacional é notório nas palavras de ambas as enfermeiras. No entanto, sabem que a realidade é diferente nos serviços prestados noutros locais, ainda que haja empresas que demonstrem preocupação pela saúde dos seus trabalhadores.

"A diferença de um serviço interno criado pela própria empresa, diferencia-se dos serviços externos. Tem havido um esforço, quer da equipa de enfermagem do trabalho, quer do nosso serviço em estar mais perto dos trabalhadores, com iniciativas mais próximas dos locais de trabalho", salienta Sofia Lourenço.

 

Alterações climáticas

As alterações climáticas também estão em foco na segurança e saúde do trabalho, sendo o lema da Organização Internacional do Trabalho neste dia em 2024.

Vera Geraldes explica que, por exemplo, com a colaboração de alguns trabalhadores, foi feita uma medição da exposição à radiação solar, visto que há muitas funções que são realizadas ao ar livre. Já são fornecidos protetores solares e, quanto à poluição, há a atenção com a saúde do trabalhador.

"Há sempre uma grande adequação, mediante as necessidades do trabalhador, para puderem continuar a trabalhar em condições de saúde e segurança", refere.

Diz ainda que "a Câmara tem um programa de compras sustentáveis, em que todos os serviços têm que seguir determinadas regras, havendo critérios de sustentabilidade e vocacionados para as alterações climáticas, como a diminuição de produção de resíduos, ou na aquisição de equipamentos mais eficientes."