Dia Nacional do AVC

Dia:  31-03-2012

Local: Portimão

Todos os anos se celebra, a 31 de março, o Dia Nacional do Acidente Vascular Cerebral (AVC). Esta comemoração assume especial importância se tivermos presente que o AVC é a terceira causa de morte em vários países do mundo e é também uma das principais causas de incapacidade física e mental (Braunwald, et al; 2000).

O AVC é uma ameaça para a saúde e bem-estar das pessoas, não só pela sua elevada incidência, mas também pela mortalidade e morbilidade que provoca, assim como pelas alterações a nível da funcionalidade, que implicam uma perda substancial no nível de qualidade de vida (Martins, 2006).

O AVC corresponde a um défice, no aporte de sangue e seus constituintes numa determinada área do cérebro, determinando alterações na sua irrigação. Estas alterações são de 2 tipos: isquémicas e hemorrágicas (Menoita, et al; 2012). As causas que lhe estão associadas são multifatoriais, sendo que na situação do AVC isquémico existem 2 causas principais: a trombose e a embolia (Martins, 2006). No caso do AVC hemorrágico, as 2 causas mais importantes são: traumatismo craniano e a existência de alteração das artérias, nomeadamente aneurismas, malformações arteriovenosas, mas mais frequentemente, alterações causadas pela existência de hipertensão arterial (Menoita, et al; 2012).

Pela sua dimensão e repercussão é imprescindível a caracterização dos fatores de risco para o AVC, pois quase toda a prevenção do AVC é sustentada na sua minimização ou eliminação. Assim, os principais fatores de risco para AVC são (Martins, 2006):

• Pressão Arterial: é o principal fator de risco para AVC.
• Doença Cardíaca: qualquer doença cardíaca, em especial as que produzem arritmias, podem determinar um AVC.
• Colesterol: em especial o aumento da fração LDL ou a redução da fração HDL.
• Hábitos tabágicos e hábitos alcoólicos.
• Diabetes Mellitus.
• Idade: quanto mais idosa é a pessoa, maior a probabilidade de ocorrer o AVC. Isso não impede que na pessoa jovem não possa ocorrer.
• Até os 51 anos de idade, os homens têm maior probabilidade de ter um AVC. Depois desta idade, o risco praticamente se iguala em ambos os sexos.
• Etnia: é mais frequente nos negros.
• História de doença vascular anterior: pessoas que já tiveram AVC têm maior probabilidade de ter um AVC.
• Obesidade: aumenta o risco de diabetes, de hipertensão arterial e de aterosclerose; assim, indiretamente aumenta o risco de AVC.
• Anticoncecionais hormonais: no entanto, os anticoncecionais com baixo teor hormonal, em mulheres que não fumam e não tenham outros fatores de risco, não aumentam a probabilidade de aparecimento de AVC.
• Sedentarismo.

De igual modo, é fundamental o seu despiste precoce e a capacidade para identificar os sinais de um AVC, que variam de acordo com o tipo de AVC e ainda com a sua localização, sendo os sinais mais frequentes:

• Diminuição da força muscular ou parestesias de um membro ou metade corporal, com dificuldade no equilíbrio no movimento (pode ocorrer paralisia da face com desvio da comissura labial);
• Dificuldade de movimentação, tonturas ou perda de coordenação e de equilíbrio;
• Alteração da linguagem (dificuldades na fala) e incapacidade de compreensão (não conseguir entender o que é dito);
• Alteração da visão num olho ou em ambos e/ou parte do campo visual (mesmo que temporariamente, é um sinal de alerta claro);
• Dor de cabeça súbita, seguida de vómitos, sonolência ou coma;
•  Perda de memória, confusão mental e dificuldade de executar tarefas habituais de início rápido.

O AVC constituiu hoje uma emergência médica que deve ser tratada como tal e cuja mortalidade e morbilidade dependem em grande parte da organização e da qualidade dos cuidados de saúde. Assim se compreende a necessidade de uma correta e constante articulação entre os diferentes intervenientes na gestão integrada de um plano global, porque o tratamento das pessoas com AVC exige a continuidade de cuidados no âmbito das instituições de saúde, mas também a participação de todas as entidades após o regresso da pessoa à comunidade e à sua família (prevenção de eventuais recidivas, recuperação de funções motoras e cognitivas, apoio domiciliário, reintegração familiar, social e profissional).

Pelo que fica exposto, torna-se evidente que a complexidade do AVC, com consequências organizativas, terapêuticas, económicas e sociais, exige uma abordagem multidisciplinar e um planeamento e coordenação locais de uma rede integrada de cuidados, que garanta a qualidade assistencial. Cerca de um terço das pessoas que sofreram um AVC ficam com incapacidades (Martins, 2006) pelo que a (Enfermagem de) reabilitação assume um papel determinante.

A reabilitação é o processo de recuperação ou de aprendizagem da gestão dos danos que o AVC causou. O processo de reabilitação envolve voltar à vida quotidiana, alcançando o maior nível de independência possível através de:

• Reaprender capacidades e habilidades entretanto afetadas;
• Aprender novas capacidades;
• Adaptar-se a algumas situações causadas pelo AVC;
• Encontrar suporte organizativo, emocional e social em casa e na comunidade adequado à dependência. [1]

Assim, a reabilitação da pessoa com AVC (segundo Martins, 2006) tem os seguintes objetivos:

• Prevenir complicações, sobretudo as deformidades, a instalação da espasticidade, a perda da mobilidade das articulações, o ombro doloroso, as doenças pulmonares, a trombose venosa profunda, as úlceras de pressão, entre outras.
•  Recuperar as funções cerebrais comprometidas pelo AVC, que podem ser temporárias ou permanentes.
• Ajudar a integração sociofamiliar no trabalho, reintegrando a pessoa com a melhor qualidade de vida possível.

No nosso entender, o papel do enfermeiro de reabilitação concorre como essencial e estruturante para a consecução destes objetivos, quer a nível da prestação, da gestão ou do ensino, numa posição privilegiada porque está próximo do cidadão e está nas organizações de saúde. Ele detém a competência adequada para o conseguir com efetividade o dever de concretizar na prática do dia-a-dia, mas tem também a responsabilidade acrescida de alertar a população e os decisores para a necessidade da criação de condições de acesso a cuidados de reabilitação com qualidade, para quem deles precisa, quando precisa.

A Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Reabilitação (MCEER), em parceria com a Associação Portuguesa dos Enfermeiros de Reabilitação (APER), com o Núcleo de Enfermeiros de Reabilitação do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio (NER do CHBA) e com a Câmara Municipal de Portimão, inserido nas comemorações do Dia Nacional do Doente com AVC (31 de março), irá realizar rastreio e educação para a saúde nesta área, em Portimão.

A MCEER pretende com este evento sensibilizar a população para as vantagens de adotar hábitos de vida saudáveis, diminuindo assim o risco de AVC, ajudar a identificar as várias formas de apoiar a pessoa com AVC e capacitar o cidadão para identificar os sinais de AVC e chamar os serviços de emergência, quando presencia este tipo de situações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- [1] http://associacaoavc.pt/SobreNos/Page7.php

- Braunwald et al (2000) Epidemiologia, factores de risco e prevenção primária do AVC. Harrisson’s Principles of Internal Medicine. 15ª edição. McGraw-Hill. Ferro JM, Verdelho A. Pathos Julho/Agosto 2000; 7-15
- Menoita, E. C. et al (2012). Reabilitar a Pessoa Idosa com AVC, Contributos para um envelhecer resiliente. Lusociência. Lisboa
- Martins, T. (2006). Acidente Vascular Cerebral, qualidade de vida e bem-estar dos doentes e familiares cuidadores. Formasau e Saúde, Lda. Coimbra

A Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Reabilitação

GCI/AS