Auditoria do Tribunal de Contas

2605 doentes morrem à espera de cirurgia

  • 17-10-2017

Pelo menos 2605 doentes morreram à espera de uma cirurgia, em 2016. Esta é uma das conclusões da auditoria do Tribunal de Contas ao Acesso a Cuidados de Saúde no SNS divulgada esta terça-feira, 17 de outubro.

O relatório do Tribunal traça um retrato negro do SNS, concluindo que ocorreu uma “degradação do acesso dos utentes a consultas de especialidade hospitalar e à cirurgia programada”.

De acordo com o relatório, cuja análise incidiu sobre o triénio 2014-2016, o tempo médio de espera para uma primeira consulta de especialidade hospitalar aumentou de 115 para 121 dias e o número de utentes em lista de espera cirúrgica aumentou em 27 mil utentes, ou seja, cerca de 15%.

Na sequência do aumento das listas de espera para cirurgia, em 2016 houve 2605 inscrições que foram canceladas devido ao óbito do utente, sendo que, destes, 231 eram doentes oncológicos que aguardavam uma intervenção cirúrgica. “A capacidade de resposta dos hospitais do SNS na doença oncológica deteriorou-se face a 2014”, lê-se no documento, que critica ainda a qualidade da informação disponibilizada pela ACSS – Administração central dos Sistemas de Saúde sobre as listas de espera, considerando mesmo que não é fiável devido a procedimentos administrativos de “validação e limpeza das listas de espera”. “Foram dadas instruções pela ACSS às unidades hospitalares, no sentido de serem recusados administrativamente pedidos de consulta com tempos de espera muito elevados e ser promovida uma nova inscrição a nível hospitalar, produzindo resultados falsos sobre o tempo de espera efectivo do utente”, denuncia a auditoria.

O Tribunal de Contas refere ainda que a Região de Saúde do Algarve é a que apresenta os mais baixos índices de prestação de cuidados de saúde à população.

Para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, “o relatório do Tribunal de Contas só vem confirmar e dar razão a tudo o que a OE tem denunciado desde que estes órgãos tomaram posse, na salvaguarda da defesa das pessoas”.